segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Alunos escolhem aprender mandarim em escolas públicas no Rio




“Vamos lembrar o que estudamos na aula passada? Como se diz ‘olá’ em mandarim?”, é assim que começa o ensino de mandarim ministrado pelo professor Xu Lu na escola municipal Rivadavia Correa, uma das três unidades da rede pública do Rio de Janeiro que abriu espaço na sua grade para ensinar o mandarim como uma disciplina eletiva para seus alunos. Os estudantes do 7º ao 9º ano que cursam tempo integral e passam o dia na escola tem a oportunidade de escolher entre o ensino de línguas de espanhol, francês e mandarim, além do inglês que é obrigatório.
Na porta da sala 4 destinada a ‘atividades diversas’, no segundo andar da Rivadavia Correa, no centro do Rio, um cartaz com os dizeres “Mandarim o negócio da China” dá as boas-vindas aos alunos e anunciava que ali seria a aula de chinês. Todo animado, o aluno Maurício Cruz chega à sala e fala: “Oi bom dia professor, tudo bem?”. As carteiras são dispostas em semicírculo para facilitar a interação dos alunos de 12 a 15 anos. “Está sendo uma ótima experiência”, contou Maurício. Esta era a terceira aula de mandarim.
A escola integra o programa Ginásio Experimental, da rede municipal carioca, e oferece aulas extras no contraturno escolar. Mandarim é uma das opções, além de artes, música, teatro, robótica para os alunos interessados na área científica. Já os que gostam da comunicação podem escolher laboratório de jornal, literatura, cinema e ainda disciplinas na área de biomédicas como meio ambiente, saúde e veterinária. Os estudantes tem dois tempos de aulas de 100 minutos por semana.

Por que estudar mandarim?

“O que você sabe sobre a China?”, pergunta Xu Lu aos adolescentes. “Por que vamos estudar mandarim? O mundo é visto de outra maneira na China”. Num esforço para falar o português, Lu, como é carinhosamente chamado por alunos e professores, mistura palavras em inglês que já são de conhecimento dos alunos. Estes, por sua vez, ajudam o visitante a falar português.
No início o que parece ser um obstáculo, a barreira linguística, aos poucos vira um atrativo. Na sala de aula, performances e muitos gestos. Como se apresentar e aperto de mãos. Para criar laços de proximidade com os alunos, Lu mostra fotos de sua cidade natal, sua família, dos alunos que ele deu aula de mandarim na Indonésia e do Instituto Confúcio de promoção à cultura chinesa.
“As alunos aqui no Brasil, são muito diferentes dos chineses, aqui são mais extrovertidos, não tem vergonha de falar com o professor. Os alunos são inteligentes”, disse ao UOL Lu.
Os próprios coordenadores e professores admitem que o objetivo não é fazer com que os alunos terminem o ano letivo falando fluentemente o mandarim. Xu Lu defende que pode ser uma oportunidade para que alunos interessados concorram a uma bolsa de estudos na China.
“Posso inspirá-los sobre a China, abrir a cabeça para mostrar uma cultura que é diferente. Se eles tiverem interesse pela cultura estrangeira, podem dar continuidade aos estudos e até conseguir uma oportunidade de estudar na China num intercâmbio com o apoio do Instituto Confúcio”, disse.

De olho na viagem

Rebeca Cabral, 13, estudante do 9º ano na Rivadavia já mostra orgulhosa alguns ideogramas esboçados nas folhas de caderno. Ela tenta copiar com rigor os traços da escrita chinesa e diz que é tudo muito diferente e divertido.
“A gente aprende chinês e ensina português para o Lu”, conta Rebeca, uma das primeiras alunas a chegar na sala de aula. Segundo Rebeca, não só os alunos, mas os professores das outras disciplinas também estão curiosos.
Quando for para o ensino médio, Rebeca já pensa na possibilidade de estudar o mandarim em um curso de línguas e sonha alto, em poder um dia conseguir uma viagem para a China.
“É muito diferente, se a gente aprender a falar chinês a gente pode ganhar uma viagem. Eu tenho vontade de conhecer a  China. Pedi para a minha mãe para fazer em curso de chinês depois que eu terminar a escola. O mandarim pode me ajudar muito no trabalho e quando for viajar”, conta. Os alunos de escolas públicas do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio podem concorrer a bolsas de estudo ou intercâmbio para a China pelo Instituto Confúcio.
O Instituto Confúcio em parceria com a Unesp também oferece bolsas para cursos de verão com duração de 30 dias e de um ano, na Universidade de Hubei, na cidade de Wuhan. As bolsas oferecidas pela sede do Instituto Confúcio na China cobrem mensalidades, despesas de moradia e ajuda de custo. Os editais para o Curso de Verão na China são divulgados a partir do mês de maio e o curso acontece em junho e julho. Já as bolsas de estudo de 1 ano são divulgadas entre março e abril e o ano letivo começa no mês de setembro.

Oralidade

A didática começa pela oralidade, pela fala, a comunicação e a assimilação da sonoridade de uma língua que tem matizes e referências completamente diferentes da língua portuguesa. Xu Lu mostra vídeos e imagens sobre a cultura chinesa e faz o que mais se pretende, a interdisciplinaridade do ensino da língua com história, geografia e cultura.
A diretora da Rivadavia, Bárbara Portilho, disse que apesar das distâncias do mandarim e da língua portuguesa e o fato de Xu Lu não dominar o português, o ensino não fica prejudicado. “Vamos avaliar se é uma estratégia de sucesso. É uma construção coletiva, um desafio de aproximar as culturas”.

Convênio

Em outubro de 2011, a rede municipal de ensino carioca recebeu a oferta do Instituto Confúcio de material didático e um professor do idioma para dar aulas de mandarim no Programa Ginásio Experimental nas escolas do Rio que cumprem horário integral. 
O jovem professor é Xu Lu, 28, que está há apenas dois meses morando no Rio de Janeiro e deve ficar por mais dois anos. Xu Lu estudou na Universidade Normal de Si Chuan, província da China, e se dedica a ensinar mandarim e a difundir a cultura chinesa pelo mundo.
A proposta do Instituto Confúcio encaixou na meta de ampliar as gamas de eletivas para os alunos. “Perguntamos aos alunos se interessava. O professor chinês vai ficar dois anos em três escolas e vamos avaliar. Se valer a pena, aprofundaremos a parceria”, diz Heloísa Mesquita, coordenadora da Secretaria municipal de Educação. São 100 minutos de mandarim por semana no período da tarde.

REPORTAGEM DO SITE DA UOL 

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